Para Sheila. Que você
tenha muito sucesso no departamento de TI.
Hoje em dia no setor bancário temos a tal da biometria pra
acessar ou liberar transações no caixa eletrônico. Basicamente, a gente mete o
dedo no sensor, e ele vincula nossa impressão digital à conta. Eu acho o
máximo, porque posso sair sem o cartão e sacar ou tirar o extrato digitando os dados
da conta e metendo o dedo, sem me preocupar em fraudes e troca de cartões.
Isso tá meio que na moda. A Justiça Eleitoral está fazendo
o cadastramento biométrico dos eleitores. Até na academia o pessoal mete o dedo
pra girar a catraca. Comigo não deu muito certo porque eu desconfio que o
modelo de sensor não é lá essas coisas. Ou cadastraram minhas digitais errado.
Porque, na boa, tem gente que passa sem problema. Porque comigo não?
No banco é tranquilo, mas eu vi gente se embananar ao
colocar o dedo pra leitura da digital. Principalmente idosos. Tem uns que
torcem a mão de um jeito que lembra aquele filme de terror, O Exorcista. Parece
que está girando a cabeça (ou, no caso, a mão) 180 graus. Minha mãe foi uma
Linda Blair do setor bancário. A agência resolveu desabilitar o cadastramento
da digital dela antes que ela começasse a andar pelo teto.
Outro dia eu assisti uma reportagem sobre um lugar, acho
que um hospital, em que os funcionários batiam o ponto com a digital e acharam
um meio de burlar o sistema. Dizem que as impressões digitais são únicas. Cada
um tem as suas, e ninguém tem uma igual. Então, como eles fizeram?
Usaram moldes de látex e os cúmplices usaram esses moldes
como luvas. Aí eu lembrei de dois filmes que mencionavam esse tipo de
identificação no enredo. E sobre como fraudar o sistema.
Um é O sexto dia, com Arnold Schwarzenegger. E se você ainda
não assistiu o filme, já vou avisando: tem spoiler. O Arnold que acorda no táxi
é o clone. O outro é Minority Report, com o Tom Cruise. Ele faz um transplante
de olho (de olho!) e quando vai ao shopping, o programa de identificação lhe dá
as boas vindas como “Sr. Nakamura”.
Outra parte do nosso corpo que seria única e, portanto, à
prova de cópia seria uma parte do olho, a íris. Eu pensei, quando vi a cena do
táxi: pô, que legal se a tecnologia avançar a ponto da gente não precisar de cartão,
cheque ou dinheiro pra pagar as contas. Só olhando o sensor, e pronto.
Mas aí o herói do filme é um clone. Com o mesmo padrão, as
mesmas digitais (dizem que até o formato da orelha é único). Com ele e o
original andando por aí ao mesmo tempo, levaria metade do tempo pra gastar o
dinheiro!
Deixemos de lado a clonagem, mesmo com a Dolly. O que
impediria os bandidos de espalhar sensores que vão cobrar por compras e
serviços que não pedimos? Imagine um comerciante mal intencionado que põe um
desses na vitrine, e só da gente olhar pra mercadoria, compramos ela. Daí, de
duas uma: recebemos um monte de entregas em casa, e/ou quando a gente quiser
comprar uma balinha, recebemos a mensagem de “saldo insuficiente”.
Daqui a pouco, as maquininhas de cartão vão ser trocadas
por leitores de impressão digital. Mas aí vamos ter que tomar muito cuidado
onde passamos o dedo, e lembrar de limpar o sensor depois de pagar a compra.
Pelo menos a gente se livra do porre de ter que decorar senha. Só que se
fraudarem a digital, não vamos ter como bloquear e trocar, não é mesmo?
E o que acontece se perdermos o dedo cuja digital está
cadastrada? Ou, nesse delírio futurista, se eu precisar de um transplante de
córnea, vou ter acesso às contas do doador? Sei lá! Antes do avião ser
inventado, quem imaginou morrer num acidente aéreo? Júlio Verne, talvez?
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