segunda-feira, 30 de maio de 2011

Nariz de Pinóquio

Em todos os campos do conhecimento humano, as pessoas agem das mais variadas formas tanto da parte dos produtores do conhecimento quanto dos usuários ou público leigo. O leque de reações pode variar da completa rejeição (conservadorismo) à adesão entusiástica (e muitas vezes impensada ou mal-intencionada) às novas ideias e tecnologias.
Isso se aplica ao setor bancário. Quando surgiram os caixas eletrônicos, muitos clientes viram a oportunidade de otimizar o acesso ao banco. Com o advento da internet e os avanços na Tecnologia da Informação, o leque de opções se ampliou de tal maneira que, se fosse possível, os bancos forneceriam cédulas e talões de cheque pelos nossos computadores.
Isso gerou, além das oportunidades acima listadas, problemas para dois grupos envolvidos nesta equação: os bancários, que sofreram com a perda de postos de trabalho, e as pessoas que necessitam dos serviços bancários, em especial o atendimento no caixa.
Este segundo grupo é dividido em dois grupos: clientes e usuários (potenciais clientes do banco). Com o avanço da tecnologia e a terceirização dos serviços de caixa, em especial os pagamentos das contas de consumo, esse público é estimulado - se não simplesmente empurrado – para os “canais alternativos de atendimento”.
Como a receptividade é variada, temos um grupo que faz a maior parte de suas transações por internet, caixa eletrônico ou débito automático e faz uso do cartão de crédito e débito para fazer suas compras. Há um segundo grupo que o faz de vez em quando, mas também faz transações em dinheiro e o guarda em casa. O terceiro grupo vê o banco apenas como o local onde seu pagamento está guardado e na data do recebimento saca todo o dinheiro e tenta levá-lo para casa, para depois voltar ao banco e pagar suas contas.
Além da mentalidade por trás desses tipos de comportamento, também há fatores sócio econômicos que influenciam a forma como a pessoa usa banco. E o primeiro deles é a educação. Quanto maior o grau de instrução, maior o acesso à informação e a facilidade para lidar com novas tecnologias. O acesso a essas tecnologias também influi na maneira com que o cliente se relaciona com o banco.
Por outro lado, se o cliente tem uma deficiência na sua formação escolar, ele estará mais inclinado a usar o guichê em vez do caixa eletrônico ou a internet. Por que ele pode não ter condições de compreender o menu de opções que o terminal oferece, perdendo-se entre elas e podendo até mesmo bloquear a senha ou, pior, ser “ajudado” por um “bom samaritano” que pode trocar seu cartão, seu envelope de depósito, fazer uma transação indevida ou simplesmente levar o dinheiro dele sem que se perceba.
Há outro grupo inclinado a esperar pelo atendimento do caixa humano, que é o de idosos. Se já fizer parte do segundo grupo, a situação piora devido às condições da idade: lentidão nas reações, problemas de saúde que podem levar ao enfraquecimento da memória e a cultura da juventude, que faz com que os mais novos desrespeitem os idosos, reclamando quando há muitos na fila de atendimento.
Para forçar o uso dos canais alternativos, as gerências das agências fazem com que os caixas e todos os funcionários entre a entrada e o guichê se tornem clones do Pinóquio.
"Não tem sistema", "o convênio é apenas para débito automático ou pagamento no caixa eletrônico", "não existe mais a transação no caixa", "estamos sem comunicação para receber boletos de outros bancos", "o documento não passa (usando uma transação indevida para o mesmo)" são algumas das mentiras que somos obrigados a contar para nos desvencilharmos desse público, que acredita que a única função do banco é pagar contas e sacar dinheiro.
Há outras, entretanto, que são reais e lastreadas em normas internas e do Banco Central, como a exigência de apresentação de documento de identidade válido para efetuar saques ou fazer outras transações que possam influenciar na movimentação da conta, como desbloqueio e alteração de senhas.
Também, como já contei neste blog, a falta de dinheiro no caixa é verossímel, devido à movimentação feita durante o dia.
Então, qual é a solução?
Uma delas talvez seja exigir dos bancos que haja assistentes para os usuários dos caixas eletrônicos para aqueles que se dispõem a usá-lo. Dessa forma, minimizam-se os problemas com bandidos que ficam à espreita esperando uma vítima fácil.
E esses assistentes, por força da legislação pertinente ao setor bancário, devem ser funcionários efetivos, e não terceirizados, estagiários ou menores aprendizes.
Um outro ponto importante é a informação prestada ao cliente desde a abertura de sua conta e durante todo o período em que se relacionar com o banco. Um erro muito comum é o cliente achar que, porque a empresa mandou abrir a conta, a responsabilidade pelo fechamento é de seus futuros ex-patrões, e não deles. O cliente, quando faz a abertura, deve se dispor a tirar todas as dúvidas, tendo como contraparte a disposição do funcionário para respondê-las, com a leitura do contrato (que quase ninguém faz).
O terceiro ponto não depende do banco nem do bancário, mas do governo (implantando políticas efetivas de educação, entre outras coisas) e do cliente. Sem disposição para aprender, praticar e tornar-se independente, o cliente ficará sempre à mercê de bandidos, que querem se aproveitar dele, e da política das agências, que o quer no seu cadastro, mas não na fila de atendimento das agências, empurrando-o para o caixa eletrônico ou para o atendimento terceirizado.