Raimundo
gostava de usar as mãos. Exceto para escrever e fazer contas. Por isso, saiu da
escola assim que terminou o primeiro grau (atual ensino fundamental). Ele está
sempre por aí, serrando, martelando, pintando, mexendo na massa e levando um
choque ou outro quando se mete a eletricista.
Outro dia, ele
teve que resolver uns assuntos no banco, mas não tinha onde deixar suas
ferramentas. Então, foi com a mochila nas costas, certo de que iria sair de lá
rápido.
Que engano! A
agência onde foi estava lotada (era dia dez). Caixa eletrônico não era com ele.
Nem computador tinha! Resignou-se e foi em direção à porta giratória. Chegando
lá, travou. Raimundo olhou para os lados, para dentro, sem saber o que estava
acontecendo. E com a mochila nas costas.
O segurança
veio falar com ele.
- O senhor tem
alguma coisa de metal aí? – Raimundo negou com a cabeça. – Vá pra trás da faixa
amarela e tente de novo.
Clanc! –
travou de novo. O guarda perguntou, e ele negou, dessa vez em voz alta.
- Não, não
tenho nada de metal! – já ficando nervoso.
Enquanto isso,
uma senhora com uma bolsa tirou o celular e as chaves, colocou-as numa caixa ao
lado da porta giratória e passou. A bolsa dela era enorme, e ela passou...
- Senhor (ele
não tinha mais que uns vinte anos, e apesar da irritação, gostou de ser tratado
assim), por que não tira as coisas da mochila e põe na caixa ao lado, como
aquela moça?
- Mas eu não
tenho nada de metal! – gritou.
Enquanto isso,
outras pessoas entravam e saíam sem problemas. Algumas travavam, mas colocavam
coisas na caixa e depois conseguiam passar sem problemas.
Então, ele
resolveu tentar passar com tudo, com a mochila nas costas. Bateu a cara no
vidro da porta. Começou a gritar que não ia sair dali até liberarem a porta,
que não tinha nada de metal, que os seguranças estavam travando a porta pra
tirar uma com a cara dele.
As pessoas que
chegaram depois viram o escândalo resolveram procurar outro banco. Quem estava
dentro foi reclamar com os gerentes por que não liberavam o coitado pra ele
poder entrar, que deviam tirar aquele sujeito, que não estava deixando eles
saírem.
Um gerente foi
até a porta conversar com Raimundo. Falou que a porta giratória trava quando a
pessoa tem coisas de metal, que é uma medida de segurança para proteger os
clientes e funcionários, blá, blá, blá.
Alterado,
Raimundo disse pela décima vez que não tinha nada de metal, que não ia abrir a
mochila, que isso era uma violação dos seus direitos, que ia procurar a
polícia. O gerente o deixou falando sozinho.
O faz-tudo deu
um murro na porta. O bancário virou-se e disse ao segurança que se ele
quebrasse o vidro, o prendesse, que o banco ia processá-lo por vandalismo. E
voltou para sua mesa.
Raimundo, que
não era homem de chorar, teve uma crise nervosa e começou a chorar. Abriu a mochila
e derrubou no chão todas as suas ferramentas, gritando:
- Onde vocês
estão vendo alguma coisa de metal aqui? Hein?