segunda-feira, 2 de junho de 2014

Caixa – Vitrine e saco de pancada dos bancos


 
 

Essa é uma visão pessoal sobre o trabalho do caixa dentro do banco, e como ele influencia a visão do público sobre a instituição onde trabalha. Há muitos fatores a considerar, como a redução crescente (!) do número de bancários e como isso afeta o atendimento bancário.

Em primeiro lugar, é necessário considerar a discrepância entre as visões do que é um estabelecimento bancário para a empresa e para o público. Para a empresa, o objetivo é fazer negócios. E, ao contrário de outros estabelecimentos comerciais, a mercadoria do banco é o dinheiro. O meu, o seu, o nosso dinheiro. Onde, exatamente? Nas diversas aplicações, como poupança, CDB, fundos de investimento, previdência privada. Em produtos como seguros de diversos tipos, títulos de capitalização e consórcios pra todos os tipos e gostos. E o lucro está na diferença entre o que ganhamos nas aplicações e os juros dos empréstimos – os chamados cdcs, consignados, e os famigerados cheque especial e cartão de crédito, os produtos com a taxa de juros mais altas de qualquer banco – o que muda são os juros cobrados de banco para banco.

Para quem é de fora – tanto clientes como não clientes, o banco é visto pela grande maioria como um lugar onde, pra começar, se pagam as contas. E guardar dinheiro, quando sé é poupador, ou onde se tirar dinheiro, quando recebe o salário ou aposentadoria.

E é aí que entra o caixa.

Há regras que ele tem que seguir no atendimento ao público que nem sempre são entendidas pelos clientes – como a identificação da pessoa que quer sacar um valor. No dia a dia, se vê de tudo: gente sem documento, com xerox de documento, com documento vencido, com cartão que não é dele querendo tirar dinheiro da conta – às vezes por ignorância, outras de má-fé, com documentos falsos.

Muita gente reclama da demora do atendimento no caixa. E isso muitas vezes é responsabilidade de mal entendidos como o acima, além da maneira como as pessoas vêm ao guichê. Pessoas que não sabem a senha, não sabem o saldo, não sabem nem o número da conta atrasam o atendimento. E quando querem fazer uma transferência para uma conta de outro banco? Não trazem o CPF ou CNPJ. Aí o cliente fica com cara de anhéééé?!

As pessoas às vezes vêm despreparadas ou distraídas ao banco: trazem documentos vencidos de outros bancos, com o cartão de outro banco querendo sacar (só porque um certo banco tem BRA no nome, não significa que pode usar o cartão no Banco do BRAsil, por exemplo).

Algumas pessoas acham que o trabalho do caixa é contar dinheiro. Eu diria que TAMBÉM, mas não só isso. E há uma rotina que ele segue para organizar as cédulas para posterior recolhimento à tesouraria.  Seguir esse padrão ajuda na hora de contar o dinheiro, independente para que seja: saque, depósito, pagamento de conta ou recolhimento para a tesouraria. E ajuda na identificação de notas falsas também. Trazer o dinheiro bagunçado pode dobrar o tempo de atendimento de uma pessoa.

Você, leitor, pode pensar: e eu com isso? Você já reclamou porque um caixa estava demorando pra atender um cliente? Pois é...

Qual é esse padrão? Pra começar, notas de mesmo valor todas juntas, com a “cara” voltada para o mesmo lado. Não importa se as cédulas forem de tamanhos diferentes. E abertas. Quando levar o dinheiro, lembre do formato “carteira aberta” (nota esticada) e não “fechada” (dobrada).

O mesmo vale para as moedas. Tem gente que quebra o cofrinho e traz as moedas do jeito que estão. Se a quantidade de moedas é pequena, não tem problema. Mas e quando as pessoas trazem verdadeiros fardos? E tudo misturado? Além disso, as agências onde trabalhei não tinham contadoras de moedas. É tudo na mão. Antigamente, o Banco Central mandava lotes de moedas em pacotes com MIL moedas. E a gente tinha que separá-las em lotes de 100, para ficar administrável.

Veja só, leitor, quanta coisa retarda o atendimento do caixa.

Além disso, com a informatização dos bancos, muitas pessoas são empurradas para os caixas eletrônicos ou para a internet, tendo condições ou não. Sabemos que há uma grande parcela da população que é semianalfabeta ou até analfabeta e são obrigadas a usar as salas de auto atendimento. Muitas não conhecem nem os números impressos! E dá-lhe golpe em cima desse povo.

Além desse grupo vulnerável existe aquele dos que não estão acostumados ao uso do computador; esse instrumento não faz parte do dia a dia deles diretamente. E entre os que estão familiarizados, há uma grande parcela que desconfia das transações on line: não faz compras pela internet nem acessa sua conta pela web.

Nos dias de maior movimento, o maior apelo do pessoal da fila é: põe mais um caixa! Mas os bancos trabalham com uma lógica cruel: cortar custos para aumentar lucros. E o empregado, em vez de investimento, é visto como “custo” a ser cortado.

Além dos postos de trabalho que não são repostos a cada leva de aposentadorias, há uma grande rotatividade no setor bancário, em especial no privado. E quando falo de rotatividade falo de demissões.

Departamentos inteiros são extintos, mas as metas aumentam a cada dia e o pessoal que fica se sente sobrecarregado; no caixa não é diferente. Há tempo limite de espera, tempo de atendimento, e os caixas e respectivos gerentes são avaliados por esses fatores. Em São Paulo, chegou-se a aprovar uma lei que estabelecia como limite de atendimento em dias de pico (pagamento de salários, dia dez) o prazo de meia hora. Quem trabalha no caixa gostaria de fazer um atendimento rápido, mas a falta de pessoal, aliada aos problemas acima citados, dificulta...

Há trinta anos, antes do surgimento dos caixas eletrônicos, havia agências com quinze guichês.  Quando entrei no banco, a agência onde ia trabalhar tinha cinco; depois de uma reforma, ficou com três, sendo um, escondido, para processamento de malotes de empresas. Tem agências que trabalham com apenas UM caixa e o gerente, que nos dias de maior movimento tem que abrir o caixa também. Além de monitorar os caixas eletrônicos, abastecê-los, chamar a assistência técnica, etc., etc.

O surgimento dos correspondentes bancários piorou a situação para clientes e bancários; as contas de consumo deixaram de ser aceitas na maioria dos guichês, empurrando as pessoas para as lotéricas e outros correspondentes que surgiram depois. E hoje em dia só aceitam no débito automático ou no caixa eletrônico. (Aliás, você já se perguntou porque uma conta é aceita no meio eletrônico – caixa ou internet – e não no guichê, olho no olho?)

Outro ponto a ser considerado é a diferença de caixa. Mas isso fica pra outro texto.